Imunobiológicos: saiba mais sobre essa classe de medicamentos que revolucionou o tratamento de doenças autoimunes

Medicamentos imunobiológicos são agentes produzidos por técnicas de biotecnologia e se assemelham a estruturas biológicas como anticorpos e receptores celulares.

De fato, desde a descoberta do infliximabe, o primeiro medicamento biológico utilizado na reumatologia, o número de agentes biológicos e suas aplicações na terapia de doenças imunomediadas aumentou dramaticamente ao longo dos anos, tornando esta categoria de drogas uma das estratégias terapêuticas mais bem sucedidas de todos os tempos.

Mercado dos biológicos

De 2015 a 2019, nos Estados Unidos, os gastos com medicamentos em geral cresceram 6,1%, enquanto os gastos com produtos biológicos cresceram mais do que o dobro – 14,6% – de acordo com um relatório da IQVIA, uma empresa de análises de saúde. Em 2019, os produtos biológicos foram responsáveis ​​por 43% dos gastos com medicamentos nos EUA.

Em 2016, os produtos biológicos representavam seis dos oito principais medicamentos, em termos de receita nos EUA. O Humira (adalimumabe) da AbbVie para artrite reumatoide, psoríase, doença de Crohn e outras doenças autoimunes liderou o ranking, com um total de vendas de US$ 18,4 bilhões.

Além disso, o aumento em a prevalência de doenças crônicas, a perda da exclusividade de patente dos principais medicamentos biológicos e a crescente demanda e maior aceitabilidade para terapias inovadoras são os fatores que impulsionam o crescimento do mercado global de produtos biológicos.

Indicações, acesso e características dessa classe de medicamentos

Os imunobiológicos são utilizados para o tratamento de várias doenças autoimunes, sendo as principais: artrite reumatoide, artrite psoriásica, espondilite anquilosante, psoríase, doença de Crohn e retocolite ulcerativa, esclerose múltipla, lúpus eritematoso sistêmico, urticaria e asma.

São medicamentos de alto custo e o acesso ao tratamento se dá via operadora de saúde ou via Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com o Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da Agência Nacional de Saúde (ANS) e com os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do SUS, respectivamente.

Esse ano, a ANS aprovou a Resolução Normativa (RN) nº 465/2021, que atualiza o Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde. Com isso, estão definidos os novos exames e tratamentos que passam a fazer parte da lista obrigatória dos planos de saúde. 

Na lista de medicamentos estão 17 imunobiológicos com 21 indicações para tratamento de doenças inflamatórias, crônicas e autoimunes, como psoríase, asma e esclerose múltipla.

Existem quatro categorias de imunobiológicos para doenças autoimunes:

  • inibidores do fator de necrose tumoral (anti-TNF) – exemplos: infliximabe, etanercept, adalimumabe, golimumabe, certolizumabe;
  • inibidores de interleucinas – exemplos: tocilizumabe, secuquinumbe, ixequizumabe, ustequinumabe;
  • inibidores de células B – exemplo: rituximabe;
  • inibidores de células T – exemplo: abatacept.

Os medicamentos são administrados via endovenosa ou subcutânea. A dosagem de cada imunobiológico – quantidade e frequência do uso – varia significativamente dependendo do medicamento, do paciente e da doença em questão. Alguns medicamentos são usados uma vez por semana, enquanto outros uma vez a cada seis meses.

Vale ressaltar que os medicamentos imunobiológicos são termolábeis, ou seja, se forem armazenados fora da temperatura recomendada (de 2 a 8 graus Celsius) podem perder seu efeito terapêutico.

Cuidados com o uso de imunobiológicos

Os pacientes que irão iniciar ou que já estão em uso de imubiológicos devem ter alguns cuidados, principalmente em relação ao risco de infecções, já que esses medicamentos são imunossupressores. Antes de usar qualquer tipo de imunobiológico o paciente deve realizar o teste tuberculínico (ou PPD), para rastreio da tuberculose latente.

Tuberculose latente é quando o bacilo da tuberculose permanece inativo no corpo da pessoa por muitos anos, sem causar sintomas. Quando há uma situação de imunossupressão, o bacilo pode se ativar e causar tuberculose. Assim, se o teste tuberculínico for positivo, a tuberculose latente deve ser tratada e o imunobiológico deve ser iniciado após pelo menos 1 mês de tratamento, que dura no total de 6 a 9 meses.

Além disso, outras infecções crônicas, como hepatites virais, devem ser rastreadas previamente ao início da terapia imunobiológica.

É de fundamental importância o acompanhamento médico regular desses pacientes. Antes de cada aplicação do biológico, devemos nos certificar de que não há contraindicações, como infecções ativas.

Finalmente, recomenda-se que a vacinação dos pacientes que irão iniciar a terapia imunobiológica esteja em dia e para os que já estão em uso, vacinas de vírus vivos devem ser evitadas.